Nos próximos dias 1 e 2 de agosto, a aldeia de Peraboa, no concelho da Covilhã, volta a celebrar a histórica Festa do Divino Espírito Santo. Pelo segundo ano consecutivo, a tradição do Bodo do Espírito Santo será recriada, quatro séculos depois do seu desaparecimento, numa iniciativa da Associação Cultural e Recreativa de Peraboa (ACRP) em conjunto com a Paróquia local.
A festa, que em tempos marcou o calendário de muitos emigrantes, é recuperada com o objetivo de valorizar as tradições ligadas ao culto do Espírito Santo, profundamente enraizadas na comunidade. “Em Peraboa temos algo incomum, que mostra bem a importância do culto na vida dos peraboenses. A aldeia tem uma rua, um largo, uma oliveira, um cruzeiro, uma capela, um lar, uma imagem e uma confraria”, explica Pedro Silveira, da organização, sublinhando a admiração local pelo culto.
A Capela do Espírito Santo, possivelmente dos finais do século XVI ou XVII, ocupa um lugar de destaque junto à principal via romana da região. “Ela, a Capela, ‘olha’ para o caminho romano, anunciando e protegendo quem passa, quem sai e quem entra”, refere Silveira, acrescentando que o local serviu também de abrigo a peregrinos de Santiago.
O ponto alto das celebrações será a recriação do Bodo do Espírito Santo, uma prática de partilha de alimentos inspirada na Rainha Santa Isabel para “matar a fome aos mais carenciados”. Pedro Silveira detalha: “Este ano vamos reproduzir mais uma vez o Bodo, com a oferta de filhoses e papas de milho. As dezenas de cestas irão na procissão e serão benzidas para que o pão nunca falte nas nossas casas”.
Para tal, a comunidade mobilizou-se para adquirir uma Coroa do Espírito Santo, que será o símbolo central da procissão. “Vamos fazer perto de 50 litros de leite transformadas em papas de milho e alguns quilos de farinha e ovos em filhoses para toda a comunidade”, adianta.
A dimensão social do evento é reforçada por Gilberto Garcia, Presidente da ACRP. “Teremos os tradicionais comes e bebes, assim como muita animação. É sempre um pretexto para as pessoas se encontrarem e conviverem”, revela, destacando o papel fundamental dos voluntários na mobilização da comunidade.
A profundidade histórica do culto é atestada por documentos antigos. A Confraria do Espírito Santo já era mencionada no século XVIII, conforme registado pelo pároco de Peraboa no inquérito enviado a todas as paróquias do país após o Terramoto de 1755, para avaliar os prejuízos causados pelo sismo.