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Obra de Zeca Afonso vai ser classificada como “um conjunto de bens móveis de interesse nacional”

O Ministério da Cultura vai avançar com o processo de classificação da obra de Zeca Afonso, “como um conjunto de bens móveis de interesse nacional”. O anúncio deixado ontem na vila de Belmonte pela Ministra da Cultura, na cerimónia de inauguração da estátua de um dos maiores vultos da música portuguesa no dia em que, se fosse vivo, iria completar 91 anos de vida.

Graça Fonseca referiu que “esta é a primeira vez que se inicia um processo de classificação de uma obra fonográfica. Uma iniciativa que o Ministério da Cultura iniciou em finais de 2018, em estreita articulação com a família do artista, e desde de 2019, com o Arquivo Nacional do Som, que tem procurado desenvolver todas as acções para encontrar uma solução que garanta a salvaguarda deste património sonoro. A abertura do processo de classificação da sua obra assegura-nos finalmente a preservação deste acervo patrimonial com uma importância única para o País”

Graça Fonseca destacou que esta classificação é também um primeiro passo para que, no futuro, Portugal tenha um arquivo do som que é património de todos, “Zeca Afonso e a sua música estão num cruzamento entre as nossas tradições populares, a nossa história recente e também um desejo permanente de comunidade e de liberdade. Portugal é som através de Zeca, e assim este é um gesto de reconhecimento institucional, mas simultaneamente uma medida essencial para garantir que será sempre possível conhecer a sua obra, hoje e durante muitas décadas, durante muitas gerações que hão de vir”.

Nascido em Aveiro, em Agosto de 1929, Zeca Afonso passou parte da sua infância em Belmonte em casa de um tio e a peça escultórica, agora inaugurada, está localizada no largo da vila de Belmonte que já tinha o seu nome.

O presidente da Câmara Municipal destaca a importância desta passagem pelo concelho na formação do músico como homem e na importância que teve para a sua obra, “estávamos nos finais dos anos 30, os pais estavam em Moçambique, e ele vivia aqui com o tio, um homem do Estado Novo. Viveu entre a rigidez familiar e a alegria do povo de Belmonte, e quero acreditar que muito do seu humanismo advém desta convivência entre nós, desta liberdade que aqui sentiu quando estava a formar a personalidade do grande homem que viria a ser. É para assinalar e perpetuar a sua passagem entre nós que hoje erguemos este espaço de memória.”

António Dias Rocha destacou a grandeza de Zeca Afonso e a importância de reconhecer o homem, o músico e o interventor social. Uma estátua a Zeca Afonso, “mais do que uma consagração ao homem, é um tributo ao seu ideal humanista, à sua excelência musical, à sua grandeza social e à sua dimensão universal, à democracia”, apontou o autarca.

Uma peça escultórica realizada por Pedro Figueiredo, em tamanho real. Zeca Afonso surge num concerto no coliseu em Lisboa, punho esquerdo ao alto e ostentando um cravo.

Uma imagem que o escultor quis cristalizar no tempo, “para que toda a zona envolvente seja um espaço onde se respire a liberdade”, pela qual Zeca Afonso tanto lutou. “Eu fiz aquela imagem do Coliseu, em que ele levanta o cravo, já muito perto da sua morte. Isso é uma imagem que eu tentei congelar no tempo, podia fazer imensas, mas eu acho que essa aí, é a que marca. Como é que uma situação que dura um minuto ou dois seja eterna”, disse Pedro Figueiredo.

Zeca Afonso faleceu na cidade de Setúbal em Fevereiro de 1987, contava então com 57 anos. A homenagem realizada durante o fim-de-semana na vila de Belmonte, na terra onde Zeca Afonso viveu algum tempo da sua infância foi também a oportunidade escolhida pela Ministra da Cultura para reafirmar a importância da obra do músico.

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