O concelho de Belmonte foi palco de uma das disputas eleitorais mais equilibradas das legislativas de 18 de maio de 2025 na região da Beira Interior. O Partido Socialista (PS) venceu o escrutínio concelhio, reunindo 1.103 votos e 32,69% da votação total, mas viu a sua vantagem tradicional severamente reduzida perante o avanço simultâneo de duas forças à direita: a coligação PPD/PSD.CDS-PP, que conquistou 923 votos (27,37%), e o Chega (CH), com 857 votos (25,41%).
A distribuição do voto entre os três principais partidos espelha uma transformação no mapa político local. Se em 2019 e 2022 o PS reinava com alguma folga, em 2025 a coligação PSD/CDS venceu em duas das quatro freguesias, e o Chega, que até há poucos anos não figurava com expressão, chegou a disputar o segundo lugar em todo o concelho, conquistando secções eleitorais importantes, especialmente nas zonas mais urbanas.

Resultados totais no concelho de Belmonte
Partido / Coligação | Votos | Percentagem |
---|---|---|
Partido Socialista (PS) | 1.103 | 32,69% |
PPD/PSD.CDS-PP | 923 | 27,37% |
Chega (CH) | 857 | 25,41% |
PCP-PEV | 84 | 2,49% |
Livre (L) | 76 | 2,25% |
Iniciativa Liberal (IL) | 62 | 1,84% |
ADN | 64 | 1,90% |
Bloco de Esquerda (BE) | 53 | 1,57% |
PAN | 49 | 1,45% |
Volt | 9 | 0,27% |
PCTP/MRPP | 6 | 0,18% |
R.I.R | 5 | 0,15% |
PPM | 4 | 0,12% |
Ergue-te | 2 | 0,06% |
Em Branco | 58 | 1,72% |
Nulos | 44 | 1,30% |
📍 Análise por freguesia

1. Maçainhas
- PS – 74 votos (44,31%)
- PSD/CDS – 46 votos (27,54%)
- Chega – 13 votos (7,78%)
- Votação clara do PS, única freguesia com margem superior a 15 pontos face ao segundo lugar
- Resto do eleitorado disperso entre pequenos partidos

2. União de Freguesias de Belmonte e Colmeal da Torre
- PS – 637 votos (32,82%)
- Chega – 524 votos (27,00%)
- PSD/CDS – 498 votos (25,66%)
- A mais populosa e urbana freguesia do concelho, e também a mais competitiva
- Três partidos disputam voto a menos de 10 pontos percentuais de distância

3. Inguias
- PS – 114 votos (34,65%)
- PSD/CDS – 93 votos (28,27%)
- Chega – 65 votos (19,76%)
- Freguesia rural onde PS mantém liderança, mas com PSD/CDS e Chega a crescerem
- ADN, IL, PCP-PEV com votações residuais mas presentes

4. Caria
- PPD/PSD.CDS-PP – 286 votos (29,70%)
- PS – 278 votos (28,87%)
- Chega – 255 votos (26,48%)
- Vitória da coligação PSD/CDS por margem mínima: apenas 8 votos de vantagem sobre o PS
- Três partidos separados por apenas 31 votos – caso mais renhido do concelho
Interpretação dos resultados
A vitória do Partido Socialista é inegável em termos concelhios, mas estrategicamente fragilizada. O PS apenas venceu com alguma folga em Maçainhas e conseguiu resistir por escassos pontos nas Inguias e na União de Freguesias de Belmonte e Colmeal da Torre. Em Caria, perdeu por escassos votos para o PSD/CDS.
A coligação PSD/CDS-PP, por sua vez, alcança o topo em duas freguesias (Caria e em números absolutos na soma das Inguias) e mostra capacidade para disputar o poder local, sobretudo se mantiver este crescimento até às próximas autárquicas. Esta é uma força em ascensão, recuperando terreno perdido nos últimos ciclos eleitorais.
O Chega é, contudo, a maior revelação eleitoral do concelho de Belmonte. Em 2022, o partido era ainda uma curiosidade política. Hoje, apresenta-se como terceira força consolidada, ficando consistentemente a menos de 10 pontos percentuais dos dois principais partidos. Em freguesias como Belmonte e Colmeal da Torre ou Caria, o Chega demonstrou capacidade de polarizar o eleitorado mais descontente, assumindo um papel de charneira nos futuros equilíbrios de poder.
Participação e dispersão de voto
Com cerca de 3.373 votos válidos contabilizados no concelho, verifica-se uma taxa de dispersão significativa entre os três partidos principais, que juntos somam mais de 85% dos votos. A restante percentagem distribui-se por forças políticas como o PCP-PEV, Livre, IL, PAN, ADN e BE, todas com votações marginais, mas reveladoras de uma diversidade ideológica ainda presente, mesmo que sem peso para influenciar mandatos.
Os votos em branco (1,72%) e nulos (1,30%) mantêm-se estáveis e dentro das margens esperadas para um concelho com tradição participativa, sinal de uma eleição com elevada clareza de escolhas por parte dos eleitores.
Conclusão
O resultado das legislativas em Belmonte marca um ponto de inflexão. O PS vence, mas com a menor margem de sempre sobre os seus adversários diretos. O PSD/CDS-PP consolida-se como alternativa séria de governo local, com duas vitórias em freguesias cruciais, enquanto o Chega se impõe como força mobilizadora, ameaçando romper o tradicional bipartidarismo local.
As próximas eleições autárquicas serão um momento decisivo para compreender se esta tendência se confirma. Com um eleitorado cada vez mais fragmentado, mas altamente participativo, o poder em Belmonte está mais aberto do que nunca. O cenário pós-eleitoral revela um concelho politicamente mais competitivo, exigente e plural.